terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um dia de visita: teatro no presídio de Ponte Nova - MG.



Ainda anestesiado pelo dia de ontem que não passou. Dia como um HOJE cravado sobre os critérios de domínio de um homem sobre outro. E que pautados sobre normas de aprisionamento muitas vezes retrógradas, privam a gente “culpada” de uma real recuperação em casas de detenção para maiores infratores. Infratores. Infratores e infratoras.

O dia foi treze no dezembro de dois mil e dez. Houve cantoria de bons desejos na Ala 4 (feminina) do Sistema Prisional de Ponte Nova, zona da mata mineira, rica em cana de açúcar, suinocultura e bárbaras mulheres de um tempo tomado pelas pedras nas mãos, latas e pulmões. Mas que naquela manhã ensolarada me provocou crença em algo que desconhecia e uma vontade de trabalho continuado. Sim! Um trabalho com o teatro de reintegração social que assisti, aprendi e participei através da última aula ministrada nesse semestre pelos graduandos Álvaro Romão e Thálita Motta, orientados pelo professor Emerson de Paula, naquele presídio.

Percebi. Que das cidades gradeadas a gente retornará às “livres” cidades, submersa pelo mundo que correu sem ela, e que na maioria das vezes, correu contra. Percebi pureza e muita humanidade em pessoas que vivem no limite da sobrevivência. Percebi mulheres finalizando um processo de quatro meses de oficina teatral através do projeto encabeçado pelo professor Emerson. Percebi abraços, conversas, desabafos e troca, muita troca. Principalmente no jogo cênico que partilhamos em roda como fazem velhos amigos. Onde elas, mulheres, jogavam sem pensar e criavam universos tão próximos da realidade que conhecem, num desnudamento sutil, cauteloso, mas muito sincero.

Jogamos todos, improvisamos juntos. Vimos corpos distintos e bocas soltando o verbo aos poucos, reintegrando-se através de um desvendar de mundo muito peculiar. Vimos redescobertas de espaços através do jogo teatral que desnudava aos poucos cada um de nós e mostrava o mundo real, nosso e delas. Uma provocação ao imaginário através de temas surgidos em roda e resolvidos através da ação, do corpo, do jogo, onde todos repensavam sobre a relação Homem X Mulher e propunham, de improviso, um olhar coletivo sobre outros temas surgidos ao acaso. O que provocava fluxo de idéias, alguma atividade e prontidão para a ação no jogo.

Eu e Saulo Campos encenamos “A História dos Três Bois” e “Chico Rei”. Foi forte ouvir os sons do saxofone ocuparem cada cela daquele pavilhão e possivelmente de outros. Escutar as estórias ecoarem, atingirem ouvidos distantes da aula, tilintarem a audição de carcereiros e policiais. Em seguida, as mulheres escreveram cartas, leram depoimentos, cantaram, desejaram feliz aniversário ao Torreão, abraçaram, despediram. Sem palavras. E se aqui disponho algumas são certamente reduzidas em potencialidade.

Obrigado mulheres, Álvaro, Thálita, Emerson e Saulo!

Daniel Sapiência Torreão

Lentes que nem sabemos.


Paulinha, espectadora de um dia comum, nos presenteou com esse descontraído registro:




sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Troca de idéias.



Foto: Eric Valenne - http://www.geostory.com/

Eric nos abordou no meio de um percurso e sugeriu sessão de fotos. Estávamos a caminho de mais uma investida no centro histórico de Ouro Preto. Um abraço, Eric!


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Teatro Matulandante no Jornal Futura.


A apresentação do dia seis de novembro no lar dos idosos foi cancelada por falta de comunicação. Nada mal quando se pensa nesse tempo de Produção Cultural de uma antiga Vila Rica que perpetua. Permanece.

Porém, o registro de outra apresentação fica aqui e nos enche de vontades. É um vídeo do primeiro bloco do Jornal Futura do dia 4 de novembro. Nos últimos cinco minutos você assiste trechos do mini-espetáculo Chico Rei e entrevistas sobre a contação de estórias e a literatura pelo Fórum das Letras 2010.


       ASSISTA O VÍDEO:

http://www.youtube.com/watch?v=qMcJ-cw86TM


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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

FÓRUM DAS LETRINHAS 2010, Teatro na Sociedade São Vicente de Paulo


Amanhã, 06 de novembro, Daniel Sapiência e Saulo Campos visitam pela segunda vez a Sociedade São Vicente de Paulo, no Bairro Cabeças, através do Fórum das Letrinhas 2010, promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto.

A primeira visita, ocorrida no último dia 30, proporcionou esclarecimentos (nossos) sobre ações imediatas para a vida de cada morador da casa, donos de olhos que transmitem a mais clara exatidão dos sentimentos que produzem. Olhares. De pessoas que habitam uma casa destinada a solidariedade. Olhares fortes, presentes, dos que ouvem os sons e assistem cenas com bonecos, objetos e textos (entendidos em sua totalidade ou não).

Lá, importa mais o ESTAR do que aquilo que pode REPRESENTAR uma cena de teatro. Estar e trocar. Pois os olhares, como disse, são diversos. Vão da angustia ao contentamento. São olhos lúcidos, serenos, vagos... Festivos, lúdicos, infantis... Olhos de fuga, busca, atenção. E que necessitam de contato.

Alguns talvez até cheguem  a olhar “de azul”. Um azul escuro, bem escuro. E talvez até vejam as coisas como compreende e propõe um poeta cuiabano que li noutro dia num lugar de quem "olha de ave".

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Interesse mercadológico


O Governo do Estado da Bahia realizou nesta segunda-feira, dia nove de agosto, a videoconferência Cultura e Desenvolvimento Sustentável entre 09h00min e 12h00min da manhã e promoveu bate papo entre pessoas de diversas regiões do Estado. O evento teve abertura com o Secretário de Cultura do Estado, Márcio Meirelles e participação dos professores e pesquisadores José Márcio Barros e Paulo Miguez.

Em diálogo direto com a Secretaria de Cultura do Estado e participantes convidados, os membros de associações, professores e gestores culturais expuseram questões de âmbito local e estadual.

Entre questões que me chamaram a atenção, recordo:

- O empenho mercadológico (o setor para grandes investidores).

Estamos caminhando para o mesmo buraco em que outrora fugimos?  (Paulo Miguez)

Grandes eventos, pautados e resguardados como difusores artísticos e culturais, obtém prioridades nas listas dos interessados em financiar ou patrocinar a arte. É que do ponto de vista dos empreendedores financeiros, a divulgação de logo-marcas das empresas que representam encontra em eventos de grande porte a projeção almejada.

O principal interesse do patrocinador não é promover a arte, proteger ou propagar a cultura de uma região. Seu empenho é evidentemente, em primeira instância, promocional.

Mas e o interesse do patrocinado? Mesmo com a finalidade de promover grandes festivais  a empresa patrocinada seria capaz de mapear as reais carências e necessidades dos cidadãos? Conseguiria focar o evento de modo mais eficaz, a ponto de contribuir para uma formação cultural mais abrangente na região em que atua?

A tentativa de obter respostas nubla meu entendimento.

A sensação (trata-se aqui do campo da abstração) é de que a profissionalização, mesmo em arte, ambiciona. E que os agentes culturais, atados, preguiçosos ou sem outras perspectivas, adequam-se aos mecanismos de trabalho disponíveis, providos ou geridos apenas por grandes corporações, o que consequentemente viabiliza a sustentação de uma ferramenta massificada. Isso põe em precipitação os agentes e faz com que, mesmo através da espetacularização das culturas populares e comercialização de uma arte meramente reproduzida, suas ações não atinjam determinados bairros, escolas ou centros de convivência das cidades, agastando-os numa tentativa ainda conceitual ou timidamente experienciada de inclusão social.

sábado, 7 de agosto de 2010

FESTIVAL DE INVERNO DE OURO PRETO E MARIANA 2010.

Dois homens trajados estranhamente e com um burro nas costas adentraram em um transporte público, R$ 1,70, com o intento de atravessar a cidade de um canto a outro. Uma mulher, acompanhada por marido, filhos e sorriso largo, sem titubeios exclamou a um dos homens do burro "Você estava na televisão... era você e uns meninos cantando, subindo nas costas dos outros, voando... A gente não fica sabendo das coisas senão a gente assistia".

Os dois homens explicaram a situação, falaram sobre o trabalho deles, informaram a respeito do Festival de Inverno e perceberam  interrogações nos semblantes alheios... Aos festejos.

A passageira do coletivo com destino ao Taquaral se referia ao cortejo "Somos todos Chico Rei", feito por moradores de Ouro Preto, que durante o Festival serviu como um presente da cidade para turistas, comerciantes da Rua São José e políticos reunidos na inauguração do terminal de ônibus da Praça da Estação.

Os dois homens, confusos e com outras interrogações, deram sinal ao motorista, desceram. Afinaram instrumentos, labutaram aos turistas e demais transeuntes nos estabelecimentos, praças, ufa! Mais um dia!

E refletiram sobre o aparato de um grande evento destinado ao. . .

Ao povo? Seria possível?

Seria?

quinta-feira, 22 de julho de 2010


18 de julho, Corredor Cultural extenso em Mariana pelo Festival de Inverno 2010. Burrinha, viajante e violeiro no percurso ao encontro do grupo de estudantes de São Domingos das Dores, Minas, na Praça da Sé.

Manhã estendida. Os leva ao Teatro Pó da Terra na Praça dos Ferroviários para dislumbre de cenário fabuloso e bonecos gigantes em perfeição.

Tal Cia de Teatro de Oliveira - MG, equipe de quarenta e cinco integrantes. . . Homens, meninos, mulheres, senhores, senhoras. . .  Uma família como a de vocês, tão grande e multifacetada, precisa mesmo de muita coragem e fé. Parabéns!

Que as mãos do benzedor contribuam para a prosperidade da Burrinha Nazaré e sucesso da turnê de vocês! Arrevoá!


Tarde, condução, almoço, obrigado Dudu, Corredor Cultural em Ouro Preto, artistas locais, Banda Marcial de Passagem de Mariana, amigos, olhos do Antônio Dias, olhos de José Monte:



quarta-feira, 14 de julho de 2010


Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana 2010. A Burrinha e o Viajante no primeiro fim de semana do evento, bem como numa quarta, dia 14, de encontro aos conterrâneos baianos em solo mineiro.

- Vitória da Conquista? Meu avô viveu lá. E meu pai nasceu na cidade de vocês. Torreão, família Torreão.

Eis que um baiano, de dentro do grupo surge e diz:

- Eu conheci. Já comprei muito leite na mão do seu avô.

E o festejo cresceu. O mine teatro sapecou no Largo da Alegria.
Salve Vitória da Conquista! Salve a memória e trajetória de um povo!
Salve meu avô que do leite fez brotar filhos, netos e o encontro desse dia!

quinta-feira, 27 de maio de 2010


Dias 14, 15, 21 e 22 de muitas aparições pelas ruas de Ouro Preto.
Chico Rei e A História dos Três Bois

Dois finais de semana com Chico Rei e os Bois

quarta-feira, 12 de maio de 2010

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Sábado, oito de maio de dois mil e dez, mais uma noite para as investidas dos Matulandantes com Chico Rei.
Da mala de viagens para os restaurantes de Ouro Preto.

Boneco Galanga cada vez mais intimo nas casas.

O som poderoso do Sax quebrado pelos chocalhos do Agbê, tornando metal e África o chão do coroado congolês. Interferência visual e sonora. Uma investigação. Restaurantes tomados por uma onda de intervenções artísticas. Músicos contratados pelas casas, garçons e garçonetes, cozinheiros e donos dos estabelecimentos, trabalhadores da noite, que como nós, dialogam com o universo fantasioso dos bonecos e do mini teatro itinerante

Esgotamento


O sentido de ir às ruas nos últimos dois meses se viu ofendido pela falta de hora e do próprio significado de pan-cake na cara. Exauriu, minguou vontades. A exaustão de um sentido seduzido pela tímida perseverança de alforriarem-se três atores que com fugacidade discorreram sobre o ouro da liberdade retirada da antiga Vila Rica. O que ficou... Esvaiu-se em aparições tímidas no feriado de Semana Santa, bem como outras em noites comuns. Restou cansaço para registrar os desencontros de vontades. Restou nenhum relato sobre os dias. Restou mudança. "Nestante". Já.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Outras impressões sobre dez de janeiro.

Ruas de Alcobaça, toda a gente num pulsar contínuo. Uns mais vivos que outros. Nostalgia. Um recordar sobre gente como víscera da bola gigante e azul. Calor e povo. Pessoas surpreendidas nas praias dando as mãos com pouca dificuldade. É que platéia de intervenção urbana reage assim: ora distante, ora de mãos dadas com o ator.

Nas cidades litorâneas, sobretudo em algumas praias da Bahia, mesmo um observador distante parece possuir vida. Há quem esteja pulsando com tanta intensidade que parte para o jogo cênico com inteireza e que sob sol escaldante reage aberto, exposto, jorrado por intuição, água do mar, sol, areia e às vezes, um pouco de álcool. Quando muito, joga ou atrapalha.

Praia tem dessas coisas. Quando a escolha de um lugar estratégico é feita - longe dos carros de sons potentes e próximo da gente que cede aos olhares - a reação interna é: Ali! Vou fazer uma apresentação ali!

Para a primeira apresentação do dia montei o circo na frente do público. Pedi licença ao senhor da cerveja e ao garoto do queijo. Dividi mesa com eles. A melhor delas, posicionada estrategicamente como um palco improvisado. Nela fiz maquiagem, calcei meias e sapatos, vesti figurino, troquei olhares, agucei curiosidades. E foi assim, recordando Chacovachi, palhaço argentino que faz isso tão bem, que preparei a arena.

Instrumento, cantiga e história. No meio dela um senhor cruza a cena e se posiciona entre mim e o público. Me fita os olhos e se mantém paralisado. Um duelo! Mas com a chegada do terceiro boi, um grito: NASCEEEEEEEEEEEU! NASCEEEEEEEEEEU! Ameaças de chifradas fazem o homem correr e esconder os fundilhos.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Alcobaça!


Alcobaça, dez de janeiro. "A história dos três bois", quiósques, cinco apresentações e encontro inusitado com amigos no fim de tarde. Uma encenação para eles e outros. O brinde no Deck Bar, a celebração e os guaiamuns. Antes vivos e grandes para ferverem no caldeirão da velha bruxa cozinheira. Deliciosos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Uma caminhada e o novo ano.

19 de dezembro, uma oferta de abrigo em Alcobaça. Emilly surge no melhor momento e Leo com o ponto de apoio estratégico na Praça da Caixa D'água. Obrigado aos dois! Izabel, Gabriel e Pedro, obrigado pela carona!
O risco da aparição solitária em praça pública. Parquinho, pula-pula, escorregador, roda formada para apresentação de cinco minutos, corpo dilatado, olhar convidativo, famílias, crianças dentro da história, jogo constante com elas, boi em posição de ataque. Ufa! Que roda!
De Alcobaça ao Prado. Projeto em mãos, secretários, prefeitura. Tentativa de veranear com teatro e música itinerante na cidade. Nenhuma resposta. Os parceiros Saulo e Maria em Minas aguardam resposta, eu também. Vamos atacar ao modo antigo?
De Prado à Manguinhos, Serra, Espírito Santo. Duas apresentações em três de janeiro. Bom ano! Na praça para as crianças, depois para toda a gente do Enseada, restaurante da esquina.
Hoje Bahia. Próximo fim de semana em Alcobaça, Prado ou Manguinhos?
Que venham os dias cheios da vida com a gente cheia dela!
Que venham inteiros!